sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

CANSADO


Cansado de tanto ter o que fazer
Cansado de fazer tanto e nada saber

Cansado de tanto sorrir
Cansado de tanto chorar

Cansado de tanto querer
Cansado de nada ser

Cansado de esperar
Cansado de caminhar

Cansado de não saber viver
Cansado de não ter coragem de morrer

Cansado de mim mesmo
Cansado de outro ser

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

TEMPO


Tempo,
Professor da vida
Amigo da paciência
Companheiro das mudanças

Tempo,
Cantor do sarau desconhecido
Compositor da sinfonia da expectativa
Partitura do incerto

Tempo,
Quando penso que aprendi com ele
Logo descubro que não tive tempo de entender
E distante fico a assistir os seus tempos

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

PAPAI NOEL


Capitalistas da orfandade
Que sucumbem à paternidade
Numa embalagem

Por que seria Papai?
O que significa ser Noel?
Figura mitológica do vazio atual

É papai o que ao amor se dá
Nada tem haver com códigos de barras lá
Não se vende presença, afeto, atenção para cá

Vermelho e branco para vidas sem cor
Previsibilidade datada da felicidade
Festas para encobrir a dor de viver

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

TEOREMA DE PITÁGORAS


Existe o triângulo retângulo
Com o quadrado do comprimento da hipotenusa,
É igual à soma dos quadrados
Dos comprimentos dos catetos
Chamado teorema de Pitágoras

Existe a pessoa sem ângulo
Com paixão difusa,
É semelhante aos enjaulados
Dos cantos fazem seus intentos
Chamado teorema dos “agoras”

Existe o texto arbúsculo
Com ramificações linguísticas da pausa,
É variável em seus emaranhados
Dos diversos rabiscos cumpre os alfabetos
Chamado teorema de têmporas

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

sábado, 7 de dezembro de 2013

SÓ UM PORQUINHO


Há tempos da iminência
Sempre haverá os eminentes
Para estas ocasiões de patente

Fim da paciência
Finais da tolerância
Término da ignorância

Lampejos da história
Lampiões dos sertões
Recomeços de ilusões

Espera um porquinho
Pois pouquinho já não há
Quando muito deveria ser feito

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

SER HUMANO


Ser não é adequado para quem vive sendo
Ser é qualidade daquele que não muda
Ser é o desejo de todos seres

Ser, bem que poderia ser diferente
Ser não precisa de muita coisa
Ser é simples maneira

Ser é muito do menos que mais falta
Ser não é tudo, apenas é
Ser, deveria, ser

Para que ser?
Por que ser?
Humano ser!

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ONDE NOS PERDEMOS


De tanto olhar para frente nos perdemos
Melhor seria caminhar com olhos para trás
Construir uma história de dividendos
Amarrar sonhos que nos traz

No caminho desgastamos nossas histórias
Percursos com percalços de ser transitório
Queria ter mais autorias
Quem sabe assim seria menos alienatório

Perdido me achei quando não mais procurei
Achei-me perdido quando não mais encontrei
Procurei me encontrar quando achei que estava perdido
E de tanto ficar perdido acho que me encontrei contido

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

GABRIEL


Tem anjo Gabriel
Lá no céu
Que beleléu

Tem furacão Gabriel
Que da terra faz o seu céu
E deixa os pais com cara de pastel

O céu deve ter ficado mais triste
Quando num Abril saíste
Esta foi a melhor sexta-feira 13 que existe

Gabriel só pode ser coisa do Emanuel
Sorrisos assim não vêm em granel
É alegria de quem veio do céu

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ORAS BOLAS


Oras bolas
Para gente sem horas
Horas bolas
Para os que ficam oras

Há horas sem bolas
Mas também tem bolas sem oras
Ruim mesmo é a hora de oras bolas
Chega de tanta bolas com oras

Horas bolas
Para gente sem oras
Oras bolas
Para os que ficam horas

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

terça-feira, 5 de novembro de 2013

VAZIO


Vazio é quando se está cheio de ausências
É quando se tem tanta coisa que não preenche,
São aqueles instantes eternos de carências
É vácuo que se forma a partir do presente

Vazio é a certeza de que falta
São convicções assombrosas de erros imutáveis,
É o sentimento da existência simplista
São tristezas que insistem em ser inanimáveis

Vazio é o frio que abraço nas noites
É o silêncio que escuta a alma,
São sonhos distantes
É a calma cheia de traumas

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

PREGUIÇA



Bem queria eu escrever
Mas fiquei com preguiça
Optei, então, por este poema encerrar

Assim,
Sem rima, sem métrica, sem sentido
...isto sim é preguiça 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

PORCA RIA


Eu queria entender porque a porca ria 
Afinal ela sempre aparece na ausência da maestria

Ria! De quê? Se é porca
Choraria! Mas para quê? Se não suporta

Porca ria!
De que adianta tanta paixão,
Se surda da razão,
Insiste num palavrão

Porca ria!
De tão teimosa que ficou,
Com o rosto vermelho irritou,
E de amarelo envergonhou

Chega! Porca ria...
Junto! Porcaria... 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

FOMOS FELIZES - UMA BUSCA POR MEMÓRIAS


Lembranças... Memórias... Recordações...

Algumas destas são alegrias atemporais e me fazem sorrir despretensiosamente. Ironicamente, outras tantas, persistem em eternizar no meu coração o pesadelo de não poder mudar o passado. Quisera eu ter o comando de minhas memórias e, então, organiza-las e cataloga-las nas prateleiras da vida. Mas, lembranças são indomáveis – não são domesticadas pela academicidade, nem são pacificadas pela maturidade e não são adestradas pela racionalidade.

Lembranças selvagens! Desbravam as minhas cercas limitadoras e causam uma eufórica confusão existencial, não respeitam os delicados recomeços que desafortunadamente dependem do vazio para reconstruir novos passos. Memórias perversas! Despem as minhas tristezas e invadem minha alma convidando-me a dançar, não reverenciam as lágrimas que lavam os sorrisos escondidos tão inofensivamente encorajadores.

O tempo e a memória se enamoram no palco da história. Quanto mais se aproximam mais o tempo mostra o quanto nossas memórias são frágeis. Estas são relances de vida que pouco a pouco vão se desfazendo, provando que o tempo, tristemente, sempre vence. Deste romance entre o tempo e as lembranças somos severamente roubados de nossas recordações de infância, onde sorrisos não precisavam ter causa, onde brincadeiras não precisavam ter lógica, onde estar perto era o suficiente, onde palavras impronunciáveis traduziam esperanças, onde sonos simbolizam paz, onde um olhar resplandecia segurança, onde rabiscos eram belas obras de arte... oh! tempo maldito! O que fizeste destas minhas pequenas lembranças? Onde as escondeu?

...sei que fomos felizes.

O tempo não foi capaz de construir suas próprias lembranças, pois para recordar é preciso ter vivo, e não apenas ter tido tempo. Talvez, por esta razão, tenha seduzido as lembranças dos viventes e roubado destes o bem mais inestimável, as primícias recordáveis. Confesso que fiquei muito tempo tentando lembrar, mas tenho que reconhecer, elas se foram... Nunca mais as encontrarei. Voltar agora é infantilizar-se, tempo que não nos torna à infância. O que sobrou foram apenas relances imaginários do que se foi. Oh! Tempo miserável! O que fizeste de minhas primeiras memórias?

...sei que fomos felizes. 

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2013]

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PALAVRAS INVERTIDAS


Se “sim” quer dizer talvez 
Se “talvez” que dizer não 
Se “não” quer dizer absoluta negatividade 
Então, vivemos tempos de palavras invertidas

Quem sabe precisamos aprender novamente ler
Quem sabe necessitamos outra vez escrever
Quem sabe devamos esquecer o dicionário
Quem sabe as palavras vão se inverter 

árevercse es missa euq aid mu áragehc
sarvalap sa retrevni ed arucuol
racinumoc es ed arienam avon 
ovon ogla rirbocsed ed said

sefortse satse rel eugesnoc meuQ
odnum ovon etsen racinumoc es eugesnoC
satasnep satse rel eugesnoc meuQ 
oditrevni ejoh o rednetne eugesnoC 

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2013]

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SAUDADE


Saudade não é quando se sente falta de algo
Isto é desejo não realizado

Saudade não é quando choramos ausências
Isto é certeza de que perdemos

Saudade não é um sentimento confuso
Isto é dúvida sobre

Saudade não é querer ter ou ser
Isto é desejo de conquista

Saudade é viver aquele tempo atemporal
Saudade é ter aquela memoria imortal
Saudade é o pesadelo dos que ainda vivem
Saudade é estrela morta que ainda brilha 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

COISAS DE VINICIUS



Um bicho igual a mim, simples e humano
Mas iguais não há, mesmo que no nome seja

A felicidade é uma coisa boa
Mas cega nossas vis lições de fracassos

Porque a vida só se dá pra quem se deu
Mas dar é um verbo com poucas declinações no hoje

De tudo, ao meu amor serei atento
Mas jamais me acostumarei a amar

Vai, minha tristeza, e diz a ela
Mas tristeza é teimosa, não vai

Não tinha teto, não tinha nada
Mas o que importa é com quem está, não onde está 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

terça-feira, 24 de setembro de 2013

MARIA ONESE



Muitos são os compostos de marias
Semelhanças que diferem existências

Tem a Maria do Socorro
Que é fruto de uma ajuda divina

Há Maria das Graças
Que por etimologia busca encontrar o Autor

Existe a Maria das Dores
Que tem estigmas do sofrer no viver

Perambula por ai a Maria da Liberdade
Que intenta ser um manifesto vivo

Haverá sempre muitas Marias!
Pós-modernidade que faz novas Marias surgir

Então, por que não, Maria Onese
Um ser paródico da maionese

Maria Onese!
Que resume a existência capitalista numa gôndola

Maria Onese!
Rótulo que estampa nossos preconceitos de cor

Maria Onese!
Sabor original de existência comerciável

Vende-se maionese
Dá-se o preço da Maria Onese 

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2013]

terça-feira, 17 de setembro de 2013

VIDAS PLACEBAS



Ser ou não ser? 
Prefiro parecer! 
Fingir ser o que todos querem ser 
Fotografar o meu ter, 
Postar sorrisos de querer, 
Esconder feridas que ninguém vê

Ser ou não ser?
Desta questão quero me abster!
Os nobres querem amadurecer
Os plebeus só sabem enlouquecer
Os espectadores julgam saber
Os poetas precisam alvorecer

Ser ou não ser?
Afinal, quem quer saber?
Só preciso viver
Ser quem sou sem me conter
Caminhar com estigmas de ser
Não ter que fingir não ser 

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2013]