segunda-feira, 28 de outubro de 2013

PREGUIÇA



Bem queria eu escrever
Mas fiquei com preguiça
Optei, então, por este poema encerrar

Assim,
Sem rima, sem métrica, sem sentido
...isto sim é preguiça 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

PORCA RIA


Eu queria entender porque a porca ria 
Afinal ela sempre aparece na ausência da maestria

Ria! De quê? Se é porca
Choraria! Mas para quê? Se não suporta

Porca ria!
De que adianta tanta paixão,
Se surda da razão,
Insiste num palavrão

Porca ria!
De tão teimosa que ficou,
Com o rosto vermelho irritou,
E de amarelo envergonhou

Chega! Porca ria...
Junto! Porcaria... 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

FOMOS FELIZES - UMA BUSCA POR MEMÓRIAS


Lembranças... Memórias... Recordações...

Algumas destas são alegrias atemporais e me fazem sorrir despretensiosamente. Ironicamente, outras tantas, persistem em eternizar no meu coração o pesadelo de não poder mudar o passado. Quisera eu ter o comando de minhas memórias e, então, organiza-las e cataloga-las nas prateleiras da vida. Mas, lembranças são indomáveis – não são domesticadas pela academicidade, nem são pacificadas pela maturidade e não são adestradas pela racionalidade.

Lembranças selvagens! Desbravam as minhas cercas limitadoras e causam uma eufórica confusão existencial, não respeitam os delicados recomeços que desafortunadamente dependem do vazio para reconstruir novos passos. Memórias perversas! Despem as minhas tristezas e invadem minha alma convidando-me a dançar, não reverenciam as lágrimas que lavam os sorrisos escondidos tão inofensivamente encorajadores.

O tempo e a memória se enamoram no palco da história. Quanto mais se aproximam mais o tempo mostra o quanto nossas memórias são frágeis. Estas são relances de vida que pouco a pouco vão se desfazendo, provando que o tempo, tristemente, sempre vence. Deste romance entre o tempo e as lembranças somos severamente roubados de nossas recordações de infância, onde sorrisos não precisavam ter causa, onde brincadeiras não precisavam ter lógica, onde estar perto era o suficiente, onde palavras impronunciáveis traduziam esperanças, onde sonos simbolizam paz, onde um olhar resplandecia segurança, onde rabiscos eram belas obras de arte... oh! tempo maldito! O que fizeste destas minhas pequenas lembranças? Onde as escondeu?

...sei que fomos felizes.

O tempo não foi capaz de construir suas próprias lembranças, pois para recordar é preciso ter vivo, e não apenas ter tido tempo. Talvez, por esta razão, tenha seduzido as lembranças dos viventes e roubado destes o bem mais inestimável, as primícias recordáveis. Confesso que fiquei muito tempo tentando lembrar, mas tenho que reconhecer, elas se foram... Nunca mais as encontrarei. Voltar agora é infantilizar-se, tempo que não nos torna à infância. O que sobrou foram apenas relances imaginários do que se foi. Oh! Tempo miserável! O que fizeste de minhas primeiras memórias?

...sei que fomos felizes. 

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2013]

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PALAVRAS INVERTIDAS


Se “sim” quer dizer talvez 
Se “talvez” que dizer não 
Se “não” quer dizer absoluta negatividade 
Então, vivemos tempos de palavras invertidas

Quem sabe precisamos aprender novamente ler
Quem sabe necessitamos outra vez escrever
Quem sabe devamos esquecer o dicionário
Quem sabe as palavras vão se inverter 

árevercse es missa euq aid mu áragehc
sarvalap sa retrevni ed arucuol
racinumoc es ed arienam avon 
ovon ogla rirbocsed ed said

sefortse satse rel eugesnoc meuQ
odnum ovon etsen racinumoc es eugesnoC
satasnep satse rel eugesnoc meuQ 
oditrevni ejoh o rednetne eugesnoC 

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2013]

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SAUDADE


Saudade não é quando se sente falta de algo
Isto é desejo não realizado

Saudade não é quando choramos ausências
Isto é certeza de que perdemos

Saudade não é um sentimento confuso
Isto é dúvida sobre

Saudade não é querer ter ou ser
Isto é desejo de conquista

Saudade é viver aquele tempo atemporal
Saudade é ter aquela memoria imortal
Saudade é o pesadelo dos que ainda vivem
Saudade é estrela morta que ainda brilha 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]