sexta-feira, 11 de outubro de 2013

FOMOS FELIZES - UMA BUSCA POR MEMÓRIAS


Lembranças... Memórias... Recordações...

Algumas destas são alegrias atemporais e me fazem sorrir despretensiosamente. Ironicamente, outras tantas, persistem em eternizar no meu coração o pesadelo de não poder mudar o passado. Quisera eu ter o comando de minhas memórias e, então, organiza-las e cataloga-las nas prateleiras da vida. Mas, lembranças são indomáveis – não são domesticadas pela academicidade, nem são pacificadas pela maturidade e não são adestradas pela racionalidade.

Lembranças selvagens! Desbravam as minhas cercas limitadoras e causam uma eufórica confusão existencial, não respeitam os delicados recomeços que desafortunadamente dependem do vazio para reconstruir novos passos. Memórias perversas! Despem as minhas tristezas e invadem minha alma convidando-me a dançar, não reverenciam as lágrimas que lavam os sorrisos escondidos tão inofensivamente encorajadores.

O tempo e a memória se enamoram no palco da história. Quanto mais se aproximam mais o tempo mostra o quanto nossas memórias são frágeis. Estas são relances de vida que pouco a pouco vão se desfazendo, provando que o tempo, tristemente, sempre vence. Deste romance entre o tempo e as lembranças somos severamente roubados de nossas recordações de infância, onde sorrisos não precisavam ter causa, onde brincadeiras não precisavam ter lógica, onde estar perto era o suficiente, onde palavras impronunciáveis traduziam esperanças, onde sonos simbolizam paz, onde um olhar resplandecia segurança, onde rabiscos eram belas obras de arte... oh! tempo maldito! O que fizeste destas minhas pequenas lembranças? Onde as escondeu?

...sei que fomos felizes.

O tempo não foi capaz de construir suas próprias lembranças, pois para recordar é preciso ter vivo, e não apenas ter tido tempo. Talvez, por esta razão, tenha seduzido as lembranças dos viventes e roubado destes o bem mais inestimável, as primícias recordáveis. Confesso que fiquei muito tempo tentando lembrar, mas tenho que reconhecer, elas se foram... Nunca mais as encontrarei. Voltar agora é infantilizar-se, tempo que não nos torna à infância. O que sobrou foram apenas relances imaginários do que se foi. Oh! Tempo miserável! O que fizeste de minhas primeiras memórias?

...sei que fomos felizes. 

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2013]

Nenhum comentário:

Postar um comentário