sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

EUS


Na primeira pessoa do singular eu não sou
Quando muito, apenas estou.
Eu não é palavra que denote singularidade
Minha pessoalidade é mutável.

De tempo em tempos me redescubro,
Me reinvento, ou me reinventam.
Encontro uma nova forma de ser eu mesmo
Geralmente muito diferente do eu que conheço.

Eus é mais apropriado para mim
Reflete mais minha versatilidade caótica.
Que de tão confuso e intruso me descubro
Vislumbro o novo que antigamente aqui existia.

Eus é a sétima pessoa do plural
Existência que de tão multifacetada,
Não consegue ser conjugada.
A esta, resta apenas ser admirada pelos errantes.

Eus aprende a conviver com os dissabores da vida,
Consegue ser o que precisa ser no momento,
Não precisa ser sempre o mesmo,
Não precisa ser um monumento.

Quisera eus conseguir me livrar do eu
E, enfim mergulhar na vida,
Descobrir a brevidade das histórias
E, então, fazer um retalho de minhas existências.

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2014]

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SUBVERSÃO DA COERÊNCIA


Os poetas existem para desgramaticar a vida
Estes são guardiões de segredos não semânticos
Assim vivem enamorando com a incerta ortografia

Os poetas existem para recodificar a vida
Não camuflam suas poéticas com a métrica
Tão pouco julga a existência pela lógica linguística

Os poetas existem para despontuar a vida
Escrevem contradições, sensações, perturbações
Submetendo o raciocino ao ridículo da forma escrita

Os poetas existem para reconfigurar a vida
Estes não se preocupam com as temporalidades das normas
O que querem é enfrentar a rigidez da coesão

Os poetas existem para desformatar a vida
Ousam por os olhos não na vulgar verbalidade do presente
Fazem dos tempos verbais uma causalidade

Os poetas existem para recomunicar a vida
Introspectam as rígidas linhas da escrita previsível
E, então, encontram licença poética para existirem

Os poetas existem...

Os poetas existem ?

Os poetas precisam existir.

[por Vinicius Seabra | escrito no inverno de 2014]