terça-feira, 22 de setembro de 2015

ANACRÔNICO


A felicidade é sempre um recorte do pretérito
É construir pontes com tudo aquilo que se foi
E vislumbrar a utopia daquilo que poderia então ser,
Mas que não se fez presente.

Nesta existência de ritmos cronológicos eu não me encontro.
Prefiro flutuar, divagar e desritmar quem eu sou
Pois afinal não sou tão linear,
Mesmo que em tudo em linhas pareço escrever.

O tempo não existe para resenhar o futuro,
Nem para desbravar o intocável passado,
Muito menos serve para compreender o presente.
Sou apenas, completamente, anacrônico.

Meu futuro está preso ao passado que viverei
Meu presente ainda vai ser escrito
E tudo aquilo que eu vivi vai se dar na atualidade
Existo numa incompletude temporal.

O tempo existe para que tenhamos espaço para produzir
O tempo existe para que tenhamos pressa
O tempo existe para que tentemos chegar longe
Por isto, quero apenas perder tempo.

Minha felicidade não está no tempo
Meu cativeiro poético não sucumbe à cronologia
Minhas lágrimas são livres para correr lentamente
Minha vida é um espetáculo com única apresentação pública.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]