terça-feira, 17 de novembro de 2015

O COLECIONADOR DE ESPERANÇAS


Lá naquela velha janela sua sombra ainda ficou
Pouco caso dos causos que encantava os viajantes
Olhar sereno de quem já viveu o suficiente para aquietar-se.

Nos porta-retratos ficou o embaçar de imagens de anos
Sofás com retalhos de vidas que por lá perambularam
Caneca de alumino que amassada fica na mesa de jantar.

Histórias vividas, contadas, passadas, repassadas
Descontinuidade intencional dos vilões agora metropolitanos
Deixando pra traz aquilo que trás na bagagem.

Não é que não há sonhos, não. Eles continuam lá
Não é que não mais se tenha fé, não. Ela também está lá
Não é que perdemos a coragem, não. Lá está.

O que nos aconteceu é que acostumamos a viver
Olhamos para o céu na espera de um milagre
Numa indizível angustia em busca de esperanças.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]