segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

GENTE QUE JÁ FOI


Carro de boi... gente que já foi.
Nesta distante identidade de uma simplicidade de pequi com arroiz
Vamos pisar o chão, cantar um refrão e subir na carroça de boi
Ter saudade, ver possibilidades e encontrar a necessidade dos doiz
Carro de boi... é assim que a gente foi.

[por Vinicius Seabra | escrito na primavera de 2016]

sábado, 6 de agosto de 2016

SIGÉTICA


Preciso falar com os tempos de minha própria existência
Dialogar com as peripécias de minhas escolhas
Fracionar as mais lucidas intenções que me assombram
Dicotomizar em meu ser o que preciso ser.

Mesmo que um silêncio de mim se comunique
Ainda que sem palavras se possam escutar
Temendo sim as coisas não ditas
Sussurrando as desvirtues impronunciáveis.

Quisera um dia dizer o que em mim tanto sufoca
Não sabendo distinguir, nem conceituar tal sensação
Pois no vazio das verbalizações muitas palavras escondem
Destes e nestes hiatos, eu existo.

Numa contemporaneidade adormecida em prolixidades
Descortina a amputação da narratividade
E, desta informatividade muda se escuta minha banalidade
Doce tristeza de uma sinergia sigética.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]

quarta-feira, 20 de julho de 2016

PROSOPAGNOSIA


Lembro-me que houve alguns que fizeram parte.
São rostos de gente que insistiram em continuar,
Semblantes de histórias inconclusas que não terminaram,
Sorrisos distantes que embelezam sonhos perdidos,
E, resumem-se em expressões de auto-retratos.

Não me lembro de vários que comigo coexistiram.
São faces sem identidade de destinos dispersos,
Vagas aparências de quem se foi sem ser percebido,
Baixas frontes que cansadas abandonaram a guarita,
E, resiste-se numa sombra desforme do passado.

Talvez, até lembre-se deles, que por aqui passaram.
São fisionomias manchadas por lágrimas que queria esquecer,
Vultos de meus fantasmas mais aterrorizantes e perversos,
Testas marcadas com representações da reprovação,
E, retifica-se em cada novo poente próximo.

Finjo não lembrar daqueles que não deveria ter ido.
São máscaras propositais que impermeabilizam o tempo,
Figura de quem sempre estará presente, ainda que no passado,
Pinturas de pessoas emblemáticas, sofisticadas, enganadas,
E, lembro-me (-se) fosse possível viver outra vez.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]

sábado, 9 de abril de 2016

V.I.Z.I.N.H.O.S.


Será que há vida para além dos meus currais?
De longe se vê aqueles seres amórficos em suas cavernas.
Contudo, ainda não sei se são reais ou virtuais...
Pode ser tudo mera distração da minha mente solitária.

Será que eles são como os de cá?
Às vezes, tão somente às vezes, escuto suas vozes.
Há gritos de desespero, mas também há suaves canções.
Não sei quem são estes marcianos travestidos de gente.

Será em que língua eles se comunicam?
Nunca falei com nenhum destes ultraterrenos moradores.
Eventualmente encontro alguns na capsula de movimento,
Mas lá não é permitido diálogos, apenas olhares distantes.

Será qual o propósito deles entre nós?
Poderiam eles até serem exterminadores intergalácticos.
Quem sabe até podem ser piromaníacos inúteis...
É melhor me afastar deles, aceitar apenas orientação do cubo.

Será que eles têm nomes próprios?
Os conheço apenas pela sigla enigmática: V.I.Z.I.N.H.O.S.
Não sei bem o que significa tais letras,
mas não deve ser bom, muitas letras juntas é sinal de perigo.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]

quinta-feira, 24 de março de 2016

INCERTEZAS


Estou muito cansado pra argumentar,
Para discutir, debater, aventar, controverter, agitar.
Hoje também não quero metáforas.
Tampouco figuras exacerbadas.
Mas palavras difíceis são bem-vindas.
Porque hoje estou inexorável.

Não quero falar em sentir.
Quero apenas minutar.
Digitar as letras sem pactos.
Com nenhuma comiseração.
Estou assim.
Em branco.

Acho que estou documento hoje.
Documento rápido.
Sem burocracia que apoquenta.
Sem meias-verdades.
Direto.
É assim que quero pra mim hoje.
Tudo célere.
Certeiro.

Mas palavras difíceis são bem-vindas, eu friso.
Pra muitas vezes ficar sem entender.
Mesmo que seja rápido e eficaz.
Porque nem sempre entender é o caminho.
Muitas vezes prefiro o abstruso.
 Porque não sei o que significa ou expressa.
 Está apenas ali: a palavra jogada, hirsuta e destoada.
Esperando ser, quem sabe, um dia.
Ou não.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]

sábado, 27 de fevereiro de 2016

PERIFERIAS DA VIDA


Viver como se de lá fossemos chegar
Caminhando sob o sol de nossas intensas buscas
Vislumbrando um anti-pretérito sem relances
Co-existindo com nossas alucinações não realizáveis
Buscando a utopia mais realizável possível
Encaixotando esperanças com rótulos amigáveis
Para além de uma sombra desfigurada
Distante de tudo que nos aproxima
Nas margens do resignificar das cores
Lugar onde dispensam todo o lixo
Anfiteatro do espetáculo dos esquecidos
Anônima vivencia daqueles que se misturam
Perto do precipício do esquecimento
Tão perto do semelhante que se camuflam
Certos do centro que pro lado ficou
Reconstruindo novos muros para não verem
Massa asfáltica para reconectar o improvável
Sinais de simbolismos esquecidos
Luzes que piscam: verdes, amarelas e vermelhas
Indo, vindo, ficando, tropeçando, buzinando
Chegando tão longe dali mesmo
Circunscrevendo os algoritmos ininteligíveis
Andando tão longe de casa
Esquecendo de sua própria identidade
Ali, aqui, por aqui, por ali
Tudo tão distante
Longe de mim mesmo.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]

sábado, 30 de janeiro de 2016

SILÊNCIO VISÍVEL


Eu te vejo,
Sei que você me viu,
Nós nos vemos.
Mas o silêncio disse tudo,
Você optou por ficar em off.

Fiquei aqui,
Escrevendo sozinho,
Para um ninguém virtual.
Você continua lá,
Lendo, vendo, mas em silêncio.

Escrever é ato solitário, eu sei.
Mas não precisa ser intencional,
Pois, eu sei, você viu.
Então porque você não responde?

O silêncio tem que ser usado.
Mas sua utilidade é dizer algo,
Silêncio é quando as palavras não cabem,
Não tem muito haver com omitir.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]