quarta-feira, 20 de julho de 2016

PROSOPAGNOSIA


Lembro-me que houve alguns que fizeram parte.
São rostos de gente que insistiram em continuar,
Semblantes de histórias inconclusas que não terminaram,
Sorrisos distantes que embelezam sonhos perdidos,
E, resumem-se em expressões de auto-retratos.

Não me lembro de vários que comigo coexistiram.
São faces sem identidade de destinos dispersos,
Vagas aparências de quem se foi sem ser percebido,
Baixas frontes que cansadas abandonaram a guarita,
E, resiste-se numa sombra desforme do passado.

Talvez, até lembre-se deles, que por aqui passaram.
São fisionomias manchadas por lágrimas que queria esquecer,
Vultos de meus fantasmas mais aterrorizantes e perversos,
Testas marcadas com representações da reprovação,
E, retifica-se em cada novo poente próximo.

Finjo não lembrar daqueles que não deveria ter ido.
São máscaras propositais que impermeabilizam o tempo,
Figura de quem sempre estará presente, ainda que no passado,
Pinturas de pessoas emblemáticas, sofisticadas, enganadas,
E, lembro-me (-se) fosse possível viver outra vez.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]