quarta-feira, 17 de maio de 2017

CAMINHOS DA POEIRA


No olhar desatento não percebi o trieiro
Tudo agora é tão rápido e tão aplainado
Quase não se chama a atenção neste chão pouco marcado
Poucos são os caminhos que ainda passam junto ao cajuzeiro.

Em um distante horizonte ficou as flores
Longe o suficiente para não atrapalhar o caminhar
Passos largos em direção ao que se tenta insistentemente evitar
No canteiro, quase no escanteio, ainda vejo alguns tratores.

Na beira da estrada as placas indicam uma direção
Percorro assim os passos de um desconhecido qualquer
Lá somente é permitido parar quando o olho vermelho requer
Ilusão de condução, de paixão, de ausência de tempo de empadão.

No olhar desatento eu percebi que o Ipê ainda insistia em florescer
Encontrei cores destoantes do betume tão escurecido
E na sombra do marginal pequizeiro esperei no chão o fruto caído
Desfrutei, então, da poeira junto ao caminho, até o anoitecer.

[por Vinicius Seabra | escrito na verão de 2017]

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